sábado, 13 de fevereiro de 2010

Deleite de Reis


Agora está na moda, pelo menos aqui no Rio, esses fast foods por todas as esquinas da zona sul. Eu não sou favorável a essa ideologia fast. Pretendo até, num dado período da minha faculdade de arquitetura, projetar um jardim suspenso no telhado do meu prédio e lá sim plantaria minhas coisas. De certa forma, estamos todos cercados pelo capitalismo e confesso que usufruo da praticidade desses fast por ai.
Hoje mesmo fui num fast food arabe, frequentado pela burguesia proletariada do delta leblon, e pedi um falafel. Cara, não é qualquer falafel que faz isso comigo, mas esse de hoje, só ele, me trouxe uma sinestesia absurda, uma nostalgia que me pôs a chegar em casa e escrever aqui.
O fato é que lembrei de um episódio ocorrido na Bahia, há um ano atrás. Fui passar uma temporada em Itacaré. Era final de janeiro e toda a galera que estava comigo naquela trip já tinha partido. Alguns eu reencontraria adiante, em outro lugar. A maioria ou quis voltar pro rio, ou quis ir para o festival de verão em Salvador. Eu quis ficar, e delirava em continuar minha viagem a cavalo.
De qualquer forma fiquei sozinha lá, quer dizer, eu e Leandro, um companero que morava lá mesmo. Era uma figura ele, um garotão negão altão, surfava como ninguém e ficava despretencioso pela rua jogando claves. As veses ele ia vender docinhos comigo na rua. Pra mim, foi o meio que encontrei de ganhar dinheiro, continuar a viagem. Era todo dia comprando o mais barato do mercado para, em ritmo progressivo, me manter peregrinando.
Nos meus últimos suspiros em Itacaré, eu e Leandro bombamos nas nossas vendas. Foi a tarde de deleite estravagante.Pegamos todo o nosso dinheiro e fomos num restaurante Israelense . Tinha até um dicionário Michaelis Português-Israelense. A mesa parecia até que estava reservada para um sultão. Várias almofadas no chão, vários panos pendurados em volta, a madeira bonita de jacarandá. Pedimos vaaaárias coisas no cardápio. Só fartura. Faltava era uma dançarina do ventre!
Imaginar que no dia seguinte fui para uma comunidade na Barra Grande, e não foi a cavalo. Apesar da energia e luz distar uns 7 km, lá a fartura era nas ondas de dia sobre o fundo de coral, e de noite sob o céu, onde vi com meus próprios olhos pela primeira vez um satélite artificial atravessando as estrelas.

Viva o dia de reis, viva o haxixe, viva as frutas secas, viva o incenso!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Cândido Portinari e a Vaca Rosa


Lendo todas as TRIPs aqui da casa da minha tia nesses últimos dias, vejo que não só meninas lindas preenchem de graça e delicadeza as suas páginas. TRIP também é cultura. É verdade. Me deparei com uma breve nota entitulada "Delicadeza corporal" falando sobre as obras de um excêntrico artista japa, Tetsuo Ikeda.
A imagem entitulada "2001" de fato me deixou curiosa, levando-me até seus arquivos onde encontrei a vaca, a tal da vaca azul.

Sem dúvida, não foi a primeira vez que me ocorre essa imagem. Sim, essa vaca já me aparecera - cor de rosa, porém. Eu ainda morava em Brasília e estudava no Candanguinho. Nessa escola, eu tinha aula de artes. Um dia, a professora começou a aula na teoria, falando só sobre Cândido Portinari ao passo que nos apresentava algumas das obras. E lá pelo desenrolar da aula, ouvi que esse pintor introduziu na arte brasileira uma certa flexibilidade das cores. Foi ai que a professora nos passou que o fato de uma vaca ser marrom ou malhada não necessariamente nos limita a desenhá-la assim como ela é. E com o restante da aula, eu e meus colegas ficamos instigados a desenhar vacas nos nossos papéis e colorir das mais diversas cores. Cara, não digo que essa foi a minha melhor aula de artes. Mas sem dúvidas, quando vejo uma vaca no meu caminho, ou melhor, quando me meto no caminho de uma vaca, não consigo vê-la de outra cor que não esteja no meu estojo de lápis.