Agora está na moda, pelo menos aqui no Rio, esses fast foods por todas as esquinas da zona sul. Eu não sou favorável a essa ideologia fast. Pretendo até, num dado período da minha faculdade de arquitetura, projetar um jardim suspenso no telhado do meu prédio e lá sim plantaria minhas coisas. De certa forma, estamos todos cercados pelo capitalismo e confesso que usufruo da praticidade desses fast por ai.
Hoje mesmo fui num fast food arabe, frequentado pela burguesia proletariada do delta leblon, e pedi um falafel. Cara, não é qualquer falafel que faz isso comigo, mas esse de hoje, só ele, me trouxe uma sinestesia absurda, uma nostalgia que me pôs a chegar em casa e escrever aqui.
O fato é que lembrei de um episódio ocorrido na Bahia, há um ano atrás. Fui passar uma temporada em Itacaré. Era final de janeiro e toda a galera que estava comigo naquela trip já tinha partido. Alguns eu reencontraria adiante, em outro lugar. A maioria ou quis voltar pro rio, ou quis ir para o festival de verão em Salvador. Eu quis ficar, e delirava em continuar minha viagem a cavalo.
De qualquer forma fiquei sozinha lá, quer dizer, eu e Leandro, um companero que morava lá mesmo. Era uma figura ele, um garotão negão altão, surfava como ninguém e ficava despretencioso pela rua jogando claves. As veses ele ia vender docinhos comigo na rua. Pra mim, foi o meio que encontrei de ganhar dinheiro, continuar a viagem. Era todo dia comprando o mais barato do mercado para, em ritmo progressivo, me manter peregrinando.
Nos meus últimos suspiros em Itacaré, eu e Leandro bombamos nas nossas vendas. Foi a tarde de deleite estravagante.Pegamos todo o nosso dinheiro e fomos num restaurante Israelense . Tinha até um dicionário Michaelis Português-Israelense. A mesa parecia até que estava reservada para um sultão. Várias almofadas no chão, vários panos pendurados em volta, a madeira bonita de jacarandá. Pedimos vaaaárias coisas no cardápio. Só fartura. Faltava era uma dançarina do ventre!
Imaginar que no dia seguinte fui para uma comunidade na Barra Grande, e não foi a cavalo. Apesar da energia e luz distar uns 7 km, lá a fartura era nas ondas de dia sobre o fundo de coral, e de noite sob o céu, onde vi com meus próprios olhos pela primeira vez um satélite artificial atravessando as estrelas.
Viva o dia de reis, viva o haxixe, viva as frutas secas, viva o incenso!